7/27/2005

Waiting for the Train to Come In*



Estou na estação. Há vários dias. A minha vida vai começar. Dentro de momentos. Ou já começou, nesta sensação inesperada e não conhecida antes.
'Eu hei-de nascer feliz numa cidade futura'**, os comboios hão-de ser o que nos transporta. Para a felicidade ou para tudo.
Podemos ler nos comboios, dormir, distrair-nos a pensar. Ver a paisagem que passa e nos aproxima da estação que escolhemos para sair e, onde, eventualmente, alguém nos espera há vários dias.
A nossa vida durante a viagem não é controlada por nós.
A minha vida vai começar e não sou eu que venho de comboio. Dentro de momentos, porque há vários dias, estarei na estação. De uma futura cidade. De uma cidade feliz. onde nascerei para estar sempre à espera dos comboios. Na estação deles. Por uma vez nascerei para esperar os comboios no sítio certo. À hora certa.
E a terra será pouca. Pouca a terra.
E quem me amar, quando eu nascer feliz numa cidade futura...
... e quem me amar (v)irá de comboio#.

* Peggy Lee (3:04 ) in ‘The Best of Miss Peggy Lee’

** Frase do poema O Jovem Mágico de Mário Cesariny.
# Título de um dos belíssimos filmes de Patrice Chéreau (1997) ou seja - Ceux qui m'aiment prendront le train

7 comments:

Dinamene said...

A bateria do portátil ainda dará para isto?
Gosto imenso da voz da Peggy Lee (The Lady is a Tramp, Shangai, September, That Old Gang of Mine, e sobretudo I'm Confessin'. E cola-se maravilhosamente ao texto. Que remetendo para várias leituras e com várias referências, ainda se torna mais interessante.
Bjo do deserto.

Elisa said...

Que pergunta é essa, C?
Sai lá do deserto homem.
Bjo

Rui Diniz Monteiro said...

De repente o comboio parava num apeadeiro mergulhado no arvoredo. E ali ficava. À espera nunca sabíamos bem de quê. Mas um perfume de aventura insinuava-se entre nós. E o silêncio descia lentamente sobre todos os passageiros. O sol, as árvores e arbustos, os pássaros, uma tranquilidade à espera de algo.
Nada.
Sem aviso punha-se em movimento. Depois, dava um apito breve, e tudo voltava ao normal... mas não exactamente como dantes.

Foi esta a memória que o teu texto (lindo!) acordou em mim, Elisa.
Para mim, o comboio é o mais romântico, aventureiro e poético de todos os meios de transporte.

Elisa said...

Rui
nisso somos iguais. Nos comboios. Reparei há pouco que no Pilar da Ponte de Tédio tenho uma série de posts que falam dos comboios. Acho que também foi uma herança que alguém me deixou.
Obrigada pela partilha das tuas memórias.
Bjo

Anonymous said...

Peggy Lee... outra voz do jazz que desconhecia (ainda não perdi "este comboio", pelos trilhos do jazz, embora mude frequentemente de estação... eheh)

olha, lá vou ter que me apear por momentos, procurar o poema de Cesariny ;)

margem

Anonymous said...

entretanto, dispersa eu, e muito despropositadamente, lembrei Cesariny noutras paragens sonoras (não-jazzísticas, se quiseres apaga...)

"Than The Serpents In My Arms

«Dorme, dorme meu menino
dorme no mar dos sargaços
que mais vale o mar a pino
que as serpentes nos meus braços»
-Mário Cesariny

And when all life as you know it
-fails
all ghostlike lips taste just the
-same
What better comfort can you find
Than the serpents in my arms

Sleep, sleep now my child
In the sea of crystal Trouble
For better is the violent sigh
Than all that you leave behind

In your eyes a dark so subtle
Tells you walk, but never fly
To leave us all behind
(...)"
- Moonspell

margem

Elisa said...

Obrigada margem.
Pelos poemas e pelas músicas alternativas... ou as outras estações.