7/21/2005

Waltz*



Nunca havia pensado nele. Assim, azedo. Assim rancoroso e triste. Assim precipitado em julgamentos. Julgando-se, por isso, livre. Julgando-a a ela, por isso, menos livre. Nunca havia pensado nele, assim, azedo e fechado numa dor de que não compreende a razão. Nunca lhe havia prometido nada. Pensou, por momentos, nas conversas e nos gestos. Não houve promessa. Sim, De certeza que não lhe prometeu nada. Não? Então porquê este rancor que agora sentia dirigido a si? Talvez tenha sido pouco clara, pensou. Desde o início. Talvez quando tentou explicar-lhe as razões de como e porquê o queria e de como e porquê não podia quere-lo… talvez tivesse sido pouco clara. Foi de certeza isto. Agora recebe aquela carta e tenta perceber as razões dele para o azedume e as ofensas. As acusações e os julgamentos. Decide responder-lhe apenas: tudo como queiras.
Não vale a pena, pensa, fomentar mais amarguras. Não vale a pena responder-lhe mais. Há música em toda a parte. Uma música nele que ela desconhecia. Uma música nela, descobre agora mesmo ligeiramente aterrada, que o inclina para a tristeza. Para a tristeza, também nela, por todas as danças que (já não) serão dançadas.

* Marty Elhrich (5:04) in ‘Song’

5 comments:

Anonymous said...

Bom às vezes um pouco de humildade tembém dava jeito, né? às vezes reconhecer aos outros a capacidade de ser inteligente não é um desaforo...E a Elisa tem demasiados complexos de superioridade intelectual, não tem? É uma pena....

Elisa said...

Anónimo, que tem esse comentário a ver com o presente post? Onde é que a minha algada ausência de humildade se revela num post como este? Já agora, testes recentes e comprovadamente fidedignos revelam que o meu QI é superior a 140. Bestial, não acha? E o seu?

Elisa said...

Errata: onde se lê algada deve ler-se alegada. Sim, os génios erram!

Anonymous said...

O primeiro comentário terá alguma coisa que ver com a autorepresentação do comentarista?
Lembrando J. Huizinga, adaptado à circunstância: L'illusion même dans laquelle a vécu mon contemporain dans ce commentaire a la valeur d'une vérité pour soi même.
Bon, va donc, et patate! Apprends um petit peu de psychologie.

Elisa said...

Anónimo (2:05)
pois. Sei lá se tem. Talvez tenha apenas a ver com a representação que o/a comentariasta tem de mim.