É a tua música preferida. Qualquer que seja a versão. E há demasiadas versões para esta música.
Quase tantas como as versões que existem para a traição. Para as múltiplas traições. A começar para o modo como, no amor, nos traímos tantas e tantas vezes a nós mesmos. Quase tantas como as diversas vezes em que nos perdoamos as mentiras pequenas. Menos do que as vezes em que tentamos perdoar as verdades que magoam. As nossas. E as dos outros. É a tua música preferida. Não consegui nunca compreender porquê.
Mas lembro-me de um dia em que me falavas desta música, das suas tantas versões e do modo como e porquê gostavas tanto de todas elas. Eu comecei a chorar. Disse-te uma das verdades. Das minhas. Daquelas que, pensei eu, nos magoam.
Tu continuaste a sorrir. Pegaste-me na mão e disseste-me que não te explicasse nada. Que cada um de nós era livre. Para ir e voltar. Para partir se tivesse mesmo que ser. Não expliques nada. Disseste. Estou aqui para sempre. E estiveste. E estás. Explico-te sempre. Explicas-me sempre. Mas é como se nunca o fizessemos.
Porque somos livres. Dizemos. Ficamos contentes quando um de nós regressa dos sítios e das pessoas onde esteve. Ficaríamos do mesmo modo, se algum de nós, não soubesse já regressar?
Não me respondas. Por uma vez, não me expliques... «quiet baby, don't explain...».
* Escolhi a versão de Joel Frahm (com Brad Mehldau) (3:21) in ‘Don’t Explain’
Mas porque não podes (ou eu) passar sem as outras, aqui ficam também algumas delas,
começando por uma das muitas versões da autora:
Billie Holliday (2:33 ) in 'The Billie Holiday Songbook'
Sonny Rollins (com Abbey Lincoln) (6:38) in 'The Freelance Years: The Complete Riverside and Contemporary Recordings' (Disco 4)
Nina Simone (4:14) in 'Feeling Good'