3/29/2006

Things Behind The Sun*













Anselm Kiefer - Sol invictus

Não me digam que a beleza não magoa. Sobretudo. Não me digam que a beleza não mata. Não me digam que as palavras ao construirem as pontes. Os nós. As cadeias. As teias. Não desconstroem. Também. Tudo. Não me digam que tudo pode ser dito. Sobretudo. Não me digam que a beleza pode ser dita. Sempre. Não me digam que há coisas para além do sol. Quando as que se encontram aquém dele. Até onde o olhar e os demais sentidos podem alcançar. São. Insuportávelmente. Belas. Mesmo depois de queimadas. Não me digam que o amor não magoa. Que o amor não mata. Que a construção do próprio amor. Não destrói. Sempre. Qualquer coisa. Mesmo que o amor seja absoluto. Absolutamente verdadeiro. Não me digam que as pétalas dos girassóis sempre estarão vivas. E que a beleza é isso. Porque. Há demasiada e demasiadamente violenta beleza num girassol desfeito. Para cá. Do sol. Ou das restantes. Estrelas. Há demasiada beleza. Uma insuportável beleza. Neste amor. Que me destrói.

* Brad Mehldau (4:37) in 'Live in Tokyo'

4 comments:

Unknown said...

Não me digam que não há pessoas que vivem em solidão porque construíram pontes em torno de si mesmas, ao invés de pontes que as ligassem aos outros :)

Elisa said...

Sim, Blah. Há seguramente essas pessoas. Talvez eu seja uma delas. Ou talvez as pessoas que tenho encontrado ultimamente sejam assim. Honestamente ainda não percebi. E honestamente interessa-me cada vez menos. E honestamente ainda não percebi se sou mais ou menos feliz de um modo. Ou de outro. Sabes que mais? Whatever.

Anonymous said...

(não sei, não sei da 'felicidade' ou 'infelicidade', apenas dos 'momentos felizes' e dos 'momentos infelizes'. os absolutos parecem-me sempre tão absolutamente... conceptuais. posso estar errada, porém.)

(sim, pessoas há que constroem, não diria pontes, mas muros em torno de si mesmas. talvez por medo, ou defesa, ou timidez, ou arrogância, ou insegurança, ou por ser de sua natureza, ou por se terem cansado de embaterem contra demasiados muros do lado de lá, ou porque ninguém nunca as ensinou a construir pontes, ou... , depois, não sei, olhar dentro & sentir o 'timing' & (re)pensar caminhos. ou não.)

(sim, as dualidades da natureza humana, física, vida, mundo, universo... gosto muito desse «Sol invictus, Elisa!)

Elisa said...

margem
Acho que tens razão. Demasiada abstracção nesses conceitos absolutos.
E tens razão quando dizes que há essa infinidade de modos que as pessoas encontram para sobreviver ou viver melhor.
Além das dualidades... a diversidade de coisas é que me parece importante... e depois talvez seja próprio da condição humana estas hesitações e contradições e talvez não fossemos tão interessantes se assim não fossemos.
Bjo