3/14/2006

She's Leaving Home*



Ela saiu-me! [finalmente!] Saiu-me de cá dentro, da minha vida, da vida que não tinha, que era nossa. Saiu-me e levou-me em parte com ela [não sei quanto de mim partiu]. Bem, mas ela saiu e isso é que me interessa. Estou só. Ela saiu. Fiquei só como pretendia, como sempre lhe disse que queria, sem mim [disparate! Sem ela!] Não importa sei que fiquei, ainda me conseguirei restar alguma coisa. Não precisarei de buscar muito para me voltar a rever, para me reencontrar, para encontrar quem fui em tempos [já sabes lá tu quem serias em tempos!]. Eu bem sei quem era! Ela saiu-me e eu estou a morrer! Com a minha falta, estou a morrer. Com a falta de mim, da parte que ela me levou.

Fazes-me falta! … Volta! Volta por favor e dá-me, ainda me tens!?

Texto de JOS

*Brad Mehldau Trio (9:07) in 'Day is Done'

16 comments:

Elisa said...

Esta música é belíssima JOS. E o texto também.
Quando saímos ou quando saem de nós, dificilmente voltamos atrás. Mesmo que voltemos.... já não encontramos nada do que foi ou do que fomos.
Conheci alguém em tempos que me disse: não se pode volotar aos lugares onde fomos felizes... parece-me verdadeiro, cada vez mais.
A sorte é que também não voltamos aos lugares onde já fomos infelizes. Será assim?

Unknown said...

Interrogo-me se alguem terá feito um teste vocacional ao JOS para escolher a profissão que escolheu em detrimento da escrita criativa... Ou talvez sem a profissão que tem não tivesse a mente disponível para ser criativo.. Enfim, mas é escrita de qualidade sem dúvida.

Elisa,
Felizmente. Chama-se a isso viver o momento. "Carpe Diem". Vive cada dia como se fosse o último. Mas, e isto é um grande MAS, podemos quase sempre reencontrar-mo-nos com o passado no futuro, em novos moldes e perspectivas distanciadas que podem ser muito construtivas.

Que sei eu?! E, pssst. Recupera-se da perda de um grande amor vivendo outro :)

Elisa said...

Blah
se alguém lhe fez o teste, deve ter-se enganado nas perguntas. :-)
Isso que dizes já não seria um reencontro, ou seria? Não sei... seria mais uma coisa qualquer diferente da anterior.
Pois, recupera-se. Tenho-me recuperado, felizmente. Mas... il y a toujours un mais...

Unknown said...
This comment has been removed by a blog administrator.
Unknown said...

Elisa,
Conhecer pessoas novas é sempre saudavel, mesmo que não se enquadrem totalmente nos nossos formatos. Aos poucos e poucos o reencontro não é com os outros mas conosco mesmo porque é essa a essência da felicidade. Afinal, se não estivermos de bem connosco não estamos a dar a oportunidade nem a nós nem a ninguem de nos fazer felizes porque só tem a capacidade de nos magoar ou alegrar quem nós permitimos que "invada" algum do nosso espaço interior.

Bons fluidos e pensamento positivo atraem coisas boas. Ponha em prática as boas intenções e viabilize as melhores intenções. O instinto normalmente tem razão.

Deixe lá essa parte de si - que o JOS reclama - bater asas e rumar de vez para onde partiu e que ruam todos os pilares por falta de tédio :)

Solte-se.

Elisa said...

Ora, e para quê?

Unknown said...

Para voltar a ser feliz :)

Elisa said...

hum... está bem. Tentarei.

Elisa said...

hum... está bem. Tentarei.

João Oliveira Santos said...

Agora que impera o silêncio nesta caixa de comentários, agora que já não falam desse jos, mas de vocês próprias, deixei-me levar… Brad Mehldau Trio (bonita, não é? Pena que tenha ficado incompleta lá para o fim!)

Quem seria esse «Ela» de quem esse jos falava? Uma mulher? Ou [apenas] a própria morte? Ou de ambas, na medida em que podem ser uma e a mesma!

Não interessa para o efeito por isso não o disse, esse jos. E o texto é disso, de tudo quanto nos parte ao meio, seja mulher ou tenha ainda um efeito mais devastador [a morte por vezes consegue ser tão devastadora quanto a mulher!] De tudo quanto nos deixa desasado quando sai, com a ausência que deixa em nós. E dessa parte de nós, que sai com esse Ela, que nos abandona.

Uma mulher quando sai de um homem [é só a brincar que os homens saem das mulheres] deixa-lhe sulco profundo. O idiota pode até ser todo cortiça, anestesia pura, mas o sulco lá fica, um buraco, uma cratera longitudinal onde, quando menos espera, cai refém indefeso, desarmado armado em forte, para outra Ela, que sem esforço o torna fraco e se instala. Se instala e lhe serve, ao dos sulcos, o que até pode ser um sucedâneo rasca de si próprio, mas que ele vai agradecer, como se voltasse a ter o bife de si que perdeu, que a outra levou.

Se a morte nos sair pode-nos levar com ela a vida. Então e uma mulher? Na altura própria?

Ainda a tens? Devolves-me? Ainda me tens?

[Muito obrigado a ambas. Mas que profissão é que eu tenho?]

Unknown said...

Que interessa que a profissão de Eça de Queirós fosse diplomata? Que interessa que Eça de Queirós tivesse uma tertulia que se auto intitulou de "Vencidos da Vida"?
Que interessa isso se é pela escrita que ainda hoje falamos dele?!

Que interessa o nome de baptizmo e e a profissão de Miguel Torga? Se tambem é pela escrita que ainda hoje falamos dele?!

Que interessa quem seria esse «Ela» de quem esse JOS falava? Se seria uma mulher ou tão só a própria morte?... Que interessa?

Falo apenas por mim quando lhe digo "nunca agradeça". A elevada qualidade literária reconhece-se.

João Oliveira Santos said...

Obrigado

Desculpe,

Aliás desculpem!

er...

esqueçam!

obrigado

Elisa said...

então?
que se passa?
O texto é excelente. A música óptima. Realmente interessa pouco a profissão do autor. Obrigada, João.

Unknown said...

Ah! A modéstia :)

De qualquer modo, essa «Ela» de quem esse JOS falava não poderia tambem ser a consciência??

Ok. Esta era só para baralhar e acrescentar uma terceira via, já que estamos aqui três cabeças e "cada cabeça sua sentença" como bem se sabe :)

Anonymous said...

my humble opinion: o texto de jos, algo lírico, algo ambíguo, muito humano, tem esse dom de se abrir ao diálogo com o leitor, por isso cada um tão facilmente lê nele o seu modo de ser, ou até a sua história...

eu... fiquei quietinha a ouvir o Brad até ao fim ;)

Elisa said...

Há quem diga, margem (va savoir!) que o Brad Mehldau toca 'sem alma'... não concordo. Fica-se mesmo quietinha a ouvir até ao fim... e também quem tal afirma nunca ouviu o Brad com atenção... nunca o ouviu, por exemplo, a interpretar o 'Lament for Linus' (Elegiac Cycle) ou o 'Resignation' (no mesmo album e também no vol 5 do Art of The Trio - Progression). Mas pronto.