5/23/2006

I Mean You*







H. Matisse - Le Destin - quadro XVI da série Jazz


Sou descrente no destino. No futuro traçado. Nas decisões tomadas como inabaláveis. Mas, por uma vez, gostaria de acreditar no destino. No futuro. Para ter a certeza. Para tomar a decisão. Inabalável. Para saber. Que estarás lá. Ou que estarás aqui. Ainda. Gostaria que este momento passasse depressa. E que o futuro não fosse assim um lugar tão longe. E tão inviolável. Por uma vez gostava de acreditar no destino. E nessas coisas assim. Para me desresponsabilizar do que foi feito. Do que foi dito. De todas as palavras que trocámos como se fossem animais selvagens em luta por um território. Por uma vez. Gostava de acreditar no destino. Para saber. Que mais tarde ou mais cedo. Uma esquina nos servirá de encontro. E que em ti haverá ainda qualquer coisa que me chama. Acreditar. Uma vez só. No futuro. E que um breve olhar nos devolverá ao princípio do que tem agora fim. Por um momento. Acreditar. Que as palavras que atirámos não foram pedras. Mas setas ao coração do silêncio. Ou da solidão. Por uma vez gostava que o destino estivesse traçado. Que houvesse um mapa do futuro. E que todas as estradas nos reconduzissem à primeira vez em que estivemos um no outro. Diluídos. Reencontrados. Sossegados.

*Art Blakey & The Jazz Messengers with Thelonious Monk (7:58) in 'Art Blakey's Jazz Messengers With Thelonious Monk'

19 comments:

Salsa said...

Aviso aos navegantes I

Amar é moto

Elisa said...

Amar é uma treta.

JPN said...

é nada, elisa. não pode ser. diz, não pode ser...gosto muito mas muito de ler os teus posts.

Elisa said...

Viva JPN :-)
Amar é uma treta. O amor é uma treta. Eu sou uma treta. Pronto. É tudo uma treta. A minha existência mais se parece com uma telenovela mexicana muito mal dobrada em brasileiro... ou como escrevia Alfredo Bryce Echenique n' O Horto da minha amada': a vida é uma história muito mal contada por um imbecil de merda.
Só não percebo é porque é que, sendo tudo isto uma treta (temporariamente, depois passa-me) gostas de me ler...
Mas, a verdade é que tu não és nada disto e eu gosto também muito de te ler.

Anonymous said...

Hey! Essa d'A minha vida vida é uma telenovela mexicana paga direitos de autor! :)

Anonymous said...

é uma treta muito peculiar:

Aviso aos navegantes II

Do naufrágio
só sobras
bóiam, mortas.
Frágil obra
à deriva
inventa histórias e
assombra olhares navegantes de plácidas enseadas.

va said...

quem me dera a mim também acreditar no destino, e que as coisas se resolverão, acreditar que não sou a única a acreditar...pois...

Elisa said...

Blah
Mil perdões... mas eu uso essa frase há anos... comecei a usá-la com um homem que me dizia coisas tão estranhas que parecia que alguém lhe escrevia os guiões... eu amei esse homem e ele também me amou. Nunca mais o vi. Depois desse amor tão... hum... sim, estranho. Mas o facto é que a minha vida começou a parecer-se exactamente com uma telenovela mexicana e eu passei a usar a frase.
Bjo

Elisa said...

Salsa
Na realidade. Uma treta absolutamente peculiar e indispensável. Mas não deixa de ser uma treta.

Elisa said...

Querida Vanessa
Olha eu não sei porquê mas cada vez gosto mais de ti. Nem te conheço. Mas estas sintonias de desejos, sei lá... aproximam-me de ti.
Não sei que coisas queres que se resolvam... talvez coisas semelhantes às que eu quero que se resolvam (não é bem resolver, que resolvidas estão em certa medida...) ou outras bem diferentes... mas eu desejo que as resolvas, ou que acredites que o destino as resolva... ou... ora bolas, ambas sabemos que acreditar no que quer que seja não é bastante, sobretudo quando não somos crentes...
Beijo

va said...

Pois, as coisas resolvidas já estão...definitivamente não como desejado... obrigada pelas palavras. bjo

Elisa said...

Vanessa
ora aí estamos ambas na mesma situação. Eu sei que as coisas para mim (não em mim) também já estão resolvidas. Mas definitivamente não foram resolvidas como eu desejava. Sabes que mais? Paciência. Haverá outras coisas para resolver no futuro... ou não...
Nada a agradecer. A não ser as tuas visitas.
Bj

Manolo Heredia said...

O Destino não existe porque não nos é revelado a tempo.
Nós só sabemos aquilo que realmente somos depois de morrer, sendo a nossa vida uma sucessão de fotos a três dimensões e o nosso Eu o album aonde se guardam todas essas fotos (as de quando nascemos ...as de quando crescemos... até ao dia da nossa morte).
Por isso não vale a pena sonhar com um futuro com sensações e emoções parecidas com as que tivemos no passado. Prá frente é que é o caminho. É sempre no futuro que se cumpre o Eu que somos!

Elisa said...

Só sabemos o que somos depois de morrer? Para uma descrente como eu, tal frase não tem qualquer sentido Manolo! Depois de morrer estamos mortos e os mortos já se sabe, nada podem saber. Para prevenir qualquer eventualidade fiz uma vez um pacto com uma pessoa que já morreu (e agora nada sabe do que foi, se alguma vez o soube...). O pacto que foi feito entre estes dois ateus (eu por enquanto viva e ele morto por enquanto)foi que o primeiro a morrer (na eventualidade de estarmos completamente enganados a respeito da morte) viria dizer a quem ficasse antes da morte, como era o depois. O homem que morreu era um homem bom, honesto, sério (entre outras coisas boas e outras coisas más). Mas jamais faltaria ao prometido. E faltou. Depois da morte só há morte, portanto.

Anonymous said...

A obra só se completa com a morte. É essa a perspectiva que alguns pensadores defendem (com razão). Acrescento: a história é contada retrospectivamente e, desse modo, está sujeita a constantes releituras (as nossas ficções pessoais, diria Freud, impõem-se aos nossos olhos) e são, por isso mesmo, marcadamente tendenciosas. Percebo nas discussões postadas a divisão entre o desespero (leiam Kierkegaard) e misantropia. Aconselho-vos a deixarem o depois para depois, ephemeros (no sentido clássico grego) que somos.

Anonymous said...

Esqueça o post anterior. Dormi mal a noite passada e o mau humor tomou conta dos trópicos.

Elisa said...

Caro Salsa
A razão é uma coisa bastante variável, como saberá melhor que eu. Tenho, como reparou uma perspectiva diferente sobre a morte. E também tenho razão. Mas o facto de eu ter razão não lhe tira a sua razão, certo?
Dormir mal, também eu durmo. Acordo ainda pior.
Tenho um humor de cão quase sempre, de forma que está desculpado, mesmo não havendo nada a desculpar

Anonymous said...

Vidas enredadas em enredos de novela mexicana [a quinta categoria da espécie]... ok, Elisa, partilhemos então a expressão com iguais direitos de autor :)

E esse amor estranho? Ainda não reapareceu para fechar o ciclo? Essas coisas retornam sempre :)

Elisa said...

Não. Era estranho, mas fechou-se. Era o mesmo que me dizia que não podemos voltar aos lugares onde fomos felizes. Talvez tivesse razão. Não sei. às vezes acho que sim, outras que não... sabes como sou sempre bestialmente indecisa.
Bjo.