Memórias com Jazz. Bebedeiras de música. Jazz com letras. Orgias de palavras. Memórias de sentidos. Viagens com palavras. Bebedeiras. Viagens. Letras. Sentidos. Jazz
Ola Catarina. Obrigada.Não é um poema, é só um texto. Mas estava cheio dessas coisas, sim. Beijinho
Eis um cadáver difícil de sepultar:Ode à Dor IO olhar, distraído,encantado com o brilho da estrela morta,insiste em retardar o fim da noite.E, antes que o sol ameace o sonho,adormece a carneentre lembranças entalhadas pelas seis vezes mil e uma noites, espalhadas em outro tanto de páginas rasuradas por versos quebrados. IIA fátua luz insistia no ocaso dos olhares– o titubear do adeus:o freudiano acordar para continuar sonhando, o shakespeareano dormir, sonhar talvez...portas do labirinto do castelo onde a face multiforme de uma dorzinha chata e sem nome entremeada com vozes, risos e vinhosparece divertir-se ao encarcerar no lusco-fusco dos seus corredores o bom, velho e (des)esperado salto pela janela. IIINa primeira vez que a vi seu non-sense corroeu a, em mim,pretensa sólida estrutura herdada.Dentes brancos e fortes aqueles, unhas fortes e afiadas aquelas:marcaram a minha carne e tatuaram em minha alma salmos e cânticos, e fizeram-me lacrimejar ao ler elegias de Safo, urrar tragédias e chutar cães sarnentos.Usei chibata e banho de salmoura para desentranhá-la – vade retro, Satanás, te’sconjuro Belzebu –,e exilá-la, lá longe, onde meus olhos não a alcancem e sua voz não me convença que isso é só mais um engano. IVSim, não tive pena da Dor e a sufoquei sem piedade.Deixei-a gemer e espernear – criança sem palavras –e ela uivou pra lua como uma loba no cio.Sem dó arranquei suas unhas e presas e a deixei sangrando, indefesa, à mercê de outras, famintas, da sua espécie.Sim, e quando a fúria, impotente, brotou em seus olhos eu os furei com ferro quente.Ó Dor, cega e muda, por mim esquartejada e abandonada aos cães: não sei do seu sepulcro, não li sua lápide e não te ofereço nenhuma prece.
Obrigada Salsa
Post a Comment
3 comments:
Ola Catarina.
Obrigada.
Não é um poema, é só um texto. Mas estava cheio dessas coisas, sim.
Beijinho
Eis um cadáver difícil de sepultar:
Ode à Dor
I
O olhar, distraído,
encantado com o brilho
da estrela morta,
insiste em retardar o fim da noite.
E, antes que o sol ameace o sonho,
adormece a carne
entre lembranças entalhadas
pelas seis vezes mil e uma noites,
espalhadas em outro tanto
de páginas rasuradas
por versos quebrados.
II
A fátua luz insistia
no ocaso dos olhares
– o titubear do adeus:
o freudiano
acordar para continuar sonhando,
o shakespeareano
dormir, sonhar talvez...
portas do labirinto do castelo
onde a face multiforme
de uma dorzinha chata e sem nome
entremeada com vozes, risos e vinhos
parece divertir-se ao encarcerar
no lusco-fusco dos seus corredores
o bom, velho e (des)esperado
salto pela janela.
III
Na primeira vez que a vi
seu non-sense corroeu a, em mim,
pretensa sólida estrutura herdada.
Dentes brancos e fortes aqueles,
unhas fortes e afiadas aquelas:
marcaram a minha carne
e tatuaram em minha alma
salmos e cânticos, e fizeram-me
lacrimejar ao ler elegias de Safo,
urrar tragédias e chutar cães sarnentos.
Usei chibata e banho de salmoura
para desentranhá-la
– vade retro, Satanás, te’sconjuro Belzebu –,
e exilá-la, lá longe, onde
meus olhos não a alcancem
e sua voz não me convença
que isso é só mais um engano.
IV
Sim,
não tive pena da Dor
e a sufoquei sem piedade.
Deixei-a gemer e espernear
– criança sem palavras –
e ela uivou pra lua
como uma loba no cio.
Sem dó arranquei suas unhas e presas
e a deixei sangrando, indefesa,
à mercê de outras, famintas,
da sua espécie.
Sim,
e quando a fúria, impotente,
brotou em seus olhos
eu os furei com ferro quente.
Ó Dor, cega e muda,
por mim esquartejada
e abandonada aos cães:
não sei do seu sepulcro,
não li sua lápide
e não te ofereço nenhuma prece.
Obrigada Salsa
Post a Comment