2/24/2006

Speak No Evil*













Paula Rego - No Deserto

Passar pelas pessoas sem lhes causar dano. Não usar as palavras erradas. Nunca. Não causar dano. Não dizer nada que magoe. Ofenda. Doa. Ou mesmo. Toque. Ser invisível. Estar no meio de coisa nenhuma e ser invisível. Não existir. Não desejar mal. Ou bem. Não desejar. Não fazer mal. Não fazer bem. Não fazer nada. Estar sem ser vista. Sentir sem ser sentida. Não pressentir. Não anunciar. Não usar palavras. Calar-me. Estar no deserto. Só. Ajoelhar-me. Pedir que não me façam mal. Ou bem. Ou nada. Não querer que queiram nada de mim. Não querer nada. De ninguém. Nunca.

* Wayne Shorter (8:21) in 'Footprints: The Life and Music of Wayne Shorter' ou in 'Speak No Evil'

23 comments:

mentes inquietas said...

Pois é ELisa, mas assim não teria muita graça, não é verdade? Se o segredo "disto" está em dar e em receber e se abdicamos dessas duas vertentes, o que nos resta? Deixar lentamente o tempo passar?

Rui Diniz Monteiro said...

Tenho horror a ser aborrecido e por isso confundo-me com a paisagem. Ainda acompanhado pelo pavor de, se derem por mim, não conseguir estar à altura! Resultado: mesmo quando não, acabo assim por viver sempre num mundo hostil...

Anonymous said...

Ao acaso e com admiração pela Elisa, aqui vai, dizendo algo:

Bocólica

Hoje meu coração é como um boi manso,
em decalcomania sobre a paisagem.
Pelo vício, talvez, rumina o capim
duma esperança há poucas horas extinta
e que lhe cai da boca em pingos de tinta
- verde a princípio, quase branca no fim.
A antiga agilidade estroina e selvagem
morreu: parado assim, no esquema rural,
ele parece à espera só de um sinal
que o devolva às origens do seu descanso.

Geir Campos (Rosa dos Rumos)

Anonymous said...

Bucólica, aliás :)

Carlos said...

E, acima de tudo, "do no evil".

r.b.S said...

Saudações.

Venho convidar O Bebedeiras e os seus leitores a fazerem uma visita ao meu blog.

http://rbs1.blogspot.com

Já adicionei O Bebedeiras á minha lista de "Blogs da Concorrência", se gostares do meu blog, poe um link do teu para o meu.

Vivam as bebedeiras, desde que haja moderação, claro!

Abraço!

Anonymous said...

invisível [2 x]

__
D.

Anonymous said...

«Ser invisível»,
por força do medo
da inépcia do deserto
da inabitabilidade.

Elisa said...

margem :)
Estou a dever-te um coup de fil. Esta vida anda complicada. Desculpa-me. Vou corrigir o invisível.

Elisa said...

RBS
já visitei e linkarei com certeza.
Muito Obrigada

Elisa said...

Mente Inquieta. Deixar o tempo passar não pode ser assim tão mau. O segredo talvez seja esse. Ser invisível.

Elisa said...

Obrigada D.

Elisa said...

Obrigada Ester.

Elisa said...

Isso, Carlos, Do No Evil.

Elisa said...

Rui
partilhamos esse pavor. De sermos aborrecidos. Eu tenho também o pavor de aborrecer. Obrigada pela visita.

Unknown said...

Sozinha no meio da multidão?
Não incomodar ninguem? Elisa, afaste essa nuvem cinzenta que o Inverno está quase a acabar e a seguir virá outra Primavera :)

Que aconteceu ao Pilar??

Elisa said...

Blah
Ora sê bem aparecida. Já me perguntei que seria feito de ti. O Pilar ruiu em Outubro. Por falta de tédio. Fica só o Bebedeiras de Jazz. Pelo menos esse, o Jazz, há sempre.

Luis Capucho said...

De facto você tem uma sensibilidade unica para se expressar. Parabens

Elisa said...

Obrigada Luís.

Carlos said...

Hoje era um bom dia para disponibilizares uma canção deprimente. Ou, se calhar, o melhor é mesmo ficarmos quietinhos, numa espécie de retiro espiritual.

João Oliveira Santos said...

Não é só o Bebedeiras!

Mas qual? Não tocar em ninguém. Essa coisa meia sonsa meia 'asas do desejo' parecem-me muito desmarcadas (tirar as marcas).
Acho que o que nos vai faltando é o que Espanha apregoa!
Precisamos mais de nos marcarmos, todos, uns e outros e muito!
Tenho dito!
(tenho dias assim)

Elisa said...

Carlos
Também pensei nisso... mas deprimente por deprimente já basta o som da voz do senhor. Que hoje foi constante.
Pensei melhor... resolvi ser magnânima :-). Daqui a pouco.

Elisa said...

João
Há dias assim... pois, de facto. Como o dia em que escrevi o 'post'.
Não queria ser marcada por mais nada. Nem por mais ninguém, além do estritamente necessário. Estou (ainda estou) cansada de marcas. Tenho dito, também. E o meu dizer é tão legítimo como o teu.