6/14/2006

Just Say I Love Him*















Paul Klee - Remembrance of a Garden

Quero dizer que o amo. Ainda. Não me custa amá-lo. Ainda. Nem não o ter. Como o tive. Completamente nu. Evidente. Não dele. Mas meu. Quero dizer que o amo. Ainda. A sua nudez. A sua evidência. Não me custa amá-lo. Apesar de não ser já meu. Não me custa amá-lo. Apesar de o ter deixado ir embora. Já tão vestido. Amo-o. Chove. E eu preciso dele. Apesar de já não o ter. Não me custa precisar dele. Chove. E eu preciso dele. Como as flores precisam da água que não nasce da terra, mas do céu. Quero dizer que o amo. Agora. Que ele caminha por outra cidade. Outra estrada. E já não é meu. Alguém o há-de ter. Como eu o tive. Alguém o verá dormir. Como um menino. Respirar. Como qualquer pessoa. Alguém o terá. Evidente. Nu. Sem ser dele. Mas quero dizer. Assim mesmo. Que o amo. Que preciso dele. Como as flores precisam da chuva. Quero dizer que me lembro. Do jardim que nascia nos seus olhos. Chove. Ninguém lhe dirá. Nem eu. Que ainda o amo. Porque não importa.

* Nina Simone (6:35) in 'Forbidden Fruit'

14 comments:

Anonymous said...

Como tu és corajosa, Elisa. Admiro a tua nudez neste palanque, esse strip teu alheado de tudo, de todos. E, não obstante, bem consciente de todos estes nossos olhares.

Teresa

Elisa said...

Viva Teresa
tenho pensado em ti, mulher... mas o saber-te bem, mais que bem... enfim sossega-me. E eis-te.
Não é coragem Teresa. Nem consciência sequer. Só tu, que és minha amiga, verias isso aqui.
Não é nada, é só o vento e uma certa melancolia e depois um certo desejo que...
Quanto à nudez, tu sabes Teresa que eu acho o que diz o Ramos Rosa algures... qualquer coisa como sermos todos tão pobres, tão evidentes e tão nuz. Valerá a pena tapar a nudez? Não perderemos nós tempo demais nessa vã tarefa?
Os sentimentos (bons e maus e assim assim) e as fraquezas não devem ocultar-se dos outros. Dos que nos conhecem, mas esses sabem... por isso talvez ainda menos daqueles que não nos conhecem.
Um beijo grande e um abraço maior ainda.
Elisa

Elisa said...

nus. Claro. nuz?

della-porther said...

Elisa.

Brasil...madrugada de quinta -feira. dia da semana que adoro... ficar por aqui, melhor programa não há...nina, uma boa dose de whisky. texto muito bonito...muito bonito mesmo, um frio gostoso, chuva...a obra de arte incrível...não consigo ir pra cama.
Que prazer raro.

Beijos e obrigado por fazer esse espaço. Adoro

Della-Porther

Elisa said...

Também não consegui dormir na madrugada de hoje. Nada. Por razões que não sei. Veio-me tudo à cabeça... e não dormi.
Della acho, honestamente, que se alguém tem que agradecer sou eu. A vocês que lêem os meus textos onde, diz a Teresa e não é a única, me dispo ou me exponho. Mas não me exponho só no que escrevo, mas em todos os passos que dou. Aqui exponho-me igualmente nos quadros que escolho, na música que decido colocar.
Exponho-me em toda a parte, como qualquer pessoa. Estamos em constante exposição. Somos bem e mal avaliados. Só posso, de verdade, agradecer as boas avaliações. E mesmo as más, que me alertam, por vezes, para coisas em que eu não havia pensado.

Carlos said...

«Os sentimentos (bons e maus e assim assim) e as fraquezas não devem ocultar-se dos outros. Dos que nos conhecem, mas esses sabem... por isso talvez ainda menos daqueles que não nos conhecem.»

Mas, Elisa, isto não é o mais difícil (embora também não seja o mais fácil, o mais evidente). O mais difícil é "domar" alguns dos nossos sentimentos!

Carlos said...

Sempre a Nina...!

Elisa said...

Carlos
Posso perguntar porquê que haveríamos de fazer tal coisa? 'domar' o que, quase por definição, é indomável? Hum... estou cansada hoje, é certo, mas não consigo descortinar a razão para isso a nãos er em casos muito 'duros' e excepcionais...
E sim, sempre a Nina.
Bjo

Carlos said...

Tens razão, Elisa. Exprimi-me mal. Não devemos domar os nossos sentimentos. Nunca. Mas devemos, muitas vezes, domar a expressão externa desses mesmos sentimentos.

Elisa said...

Achas? Para quê, ao certo? Eu sou bastante impulsiva... bem sei que por vezes devia contar até 45783 antes de expressar o que quer que seja, mas em todos estes anos de existência nunca fui capaz. Para o bem e para o mal. A não ser, como disse ali acima, em casos muito 'duros' e excepcionais.

the girl in the other room said...

parabens pelo bom gosto em cada post!;)

passo por aki mtas vezes!

Elisa said...

Obrigada, rapariga do outro quarto.
Continua a passar sempre que queiras. :)

Carocha said...

Querida Elisa, é sempre um deleite visitar-te,

muitos parabéns.

Elisa said...

samantha
muito obrigada. :-))