10/01/2006
The Falling Rains Of Life*
Paula Rego - sem título, da série sobre o aborto
Paula Rego - triptico sem título, da série sobre o aborto
É capaz que ainda alguém acredite que a interrupção voluntária da gravidez, porque é voluntária, alguma vez foi feita com vontade por alguma mulher.
É capaz que ainda alguém acredite que abortar é um acto irreflectido e fácil, para quem toma a decisão de o fazer.
É capaz que ainda alguém acredite que o direito a uma vida sem condições se deve sobrepôr ao direito a uma vida com dignidade.
É capaz que ainda alguém acredite que o corpo de uma mulher não é propriedade sua.
É capaz que ainda alguém acredite que os milhares de mulheres que, todos os anos, abortam clandestinamente em Portugal, deviam ser condenadas.
É capaz que ainda alguém acredite que os milhares de mulheres que, todos os anos, morrem em consequência de um aborto clandestino, não mereciam outra sorte.
É capaz.
É capaz que, depois do próximo dia 19 de Outubro, a hipocrisia se mantenha e continue, como quase tudo o resto, a envergonhar-me de ser portuguesa.
É capaz.
*Marty Ehrlich (5:15) in 'Song'
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12 comments:
É um país tão imensamente sórdido, Elisa, que até se congeminam pactos para manter a hipocrisia.
Coisas de uma senhora que em 82 berrava no Parlamento pelo direito da mulher ao seu corpo, mas que, entretanto, se não deixou de ter corpo, deixou pelo menos de ter cabeça.
Abraço.
É um país muito embaraçoso (eu sinto-me muitas vezes embaraçada de ser cidadã portuguesa... isto embaraça-me, percebes?)
As 'coisas' não são apenas dessa senhora. Antes fossem, seria tudo mais fácil... mas não... tudo isto começa em cada um de nós. Lembras-te do referendo? Lembras-te da abstenção? Lembras-te de ter ganho o 'não'? E eu pergunto, para que é preciso um referendo? A Assembleia não podia decidir e legislar e pronto? Como faz em tantas outras coisas? E não me venham falar de 'consciência individual'... sobretudo não me venham falar de 'consciência individual'... quando, é certo que para se poder agir conscientemente é necessário ter o enquadramento (legislativo, médico, social, etc etc, no caso concreto desta questão) para o poder fazer. Hipócritas, pois... a defender uma 'honra' que não é a deles e a perpectuar uma 'vergonha' que é nossa.
Vamos ver. Mas...
perpetuar, chiça!
As coisas a que eu me referia era o pacto, Elisa. O resto, evidentemente, não é apenas dessa senhora.
Quererias escrever "perpactuar"!?
Abraço.
Do embaraço de ser portugês, e a propósito do mesmo assunto, já falamos (aqui: http://thecatscats.blogspot.com/2006/07/vergonha-o-que-sinto_05.html).
Enfim...
Sim, Carlos. Eu sei. Ando a dar demasiados erros ortográficos... Deve ser da velhice. Estou a ficar senil :-(.
E sim falámos aí, sim, fui rever... e falámos nos mesmos termos. Enfim, pois.
Da idade não falo. É um tema deprimente, agora que sou um trintão.
Quanto à senilidade, devo dizer-te que um pouco senis todos estamos a ficar!
:)
Abraço.
Cala-te... oh cala-te, por favor... cala-te... sinceramente... eu estou quase quase nos entas... e vens tu com essa conversa (aliás é um remake, esta conversa, não é?)!!! Honestamente! Estes miúdos... ts ts ts.
Vá, desta vez abraço.
Congratulations for addressing this issue so clearly. To continue to sacrifice women is an atrocity. MY BODY! MY CHOICE!
Hi Firvidas... it is an atrocity in fact... a big one...
Como é possível que alguém ainda seja capaz de... mas que as/os há, há... - um grato beijo por este 'post', IO.
Ora IO... agradecida estou eu aos que me lêem
Beijo
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