4/06/2006

Someone To Watch Over Me*









Anselm Kiefer - girassois

Olha. Vem ouvir(me). Estava perdida num campo de girassois. Para sempre. Ouve(me). Não sei como me encontraste. Mas vieste. A realidade. Deixou de ser importante. E tu vieste. Num campo de girassois. Quem anda perdido. Raramente se encontra. Demasiadas distracções. Ou assim. Quem anda perdido. Raramente encontra. Quer dizer. Precisa que o encontrem. De tanto (não) andar à procura. Ou assim. E tu chegaste. Não sei de onde vieste. Deixou de ser importante. Tudo. Qualquer coisa. Desapareceu. Porque quando vieste. Para me encontrar. Devolveste-me o que eu desconhecia. De mim. Esta vontade irracional. De me fechar numa caixa. Ou assim. Só. Para que tomes. Conta. De mim.

* Chet Baker (3:03) in 'My Funny Valentine'

4 comments:

Anonymous said...

Mais um texto lindo. Como consegues manter toda esta beleza? É algo natural que circula à tua volta ou que te acomete num repente? Escusado perguntar, eu sei. Mas embora saiba intimamente a resposta, acho que sou suspeito para responder, eu que encontro tanta beleza nas tuas palavras e no que elas me trazem de luz, tal como estes girassóis. Aliás, já te disse uma vez, a tua sensibilidade é tão poderosa tal como uma lua soberana que guia um navio carregado de sonhos num qual arquipélago onde tudo está para além das palavras e onde se acendem os gestos como uma arma apontada ao amâgo de uma monotonia dilacerante. Intimamente sei que tu tens o poder de ser essa arma e de esconjurar revoluções contra essa monotonia. Magia tua? Não. Apenas todos os elementos e partículas de teu modo de ser que fazem de ti um universo vasto no seio deste mundo. Apenas tu...portanto...

Elisa said...

Sim. Eu. Que gosto de ti.

Krapp said...

«I don't know: perhaps it's a dream, all a dream. (That would surprise me.) I'll wake, in the silence, and never sleep again. (It will be I?) Or dream (dream again), dream of a silence, a dream silence, full of murmurs (I don't know, that's all words), never wake (all words, there's nothing else).


You must go on, that's all I know.

They're going to stop, I know that well: I can feel it. They're going to abandon me. It will be the silence, for a moment (a good few moments). Or it will be mine? The lasting one, that didn't last, that still lasts? It will be I?

You must go on.

I can't go on.

You must go on.

I'll go on. You must say words, as long as there are any - until they find me, until they say me. (Strange pain, strange sin!) You must go on. Perhaps it's done already. Perhaps they have said me already. Perhaps they have carried me to the threshold of my story, before the door that opens on my story. (That would surprise me, if it opens.)

It will be I? It will be the silence, where I am? I don't know, I'll never know: in the silence you don't know.

You must go on.

I can't go on.

I'll go on.»

Elisa said...

I surely hope so. That you go on. And that I go on. As we can.