8/11/2005

Hungaria*










mapa daqui

Vou. Ainda estou aqui. Mas já sinto a cabeça a povoar-se dos lugares que verei. Vou. Mas já sinto a cabeça a povoar-se das saudades dos lugares que deixo. Já sinto a cabeça a povoar-se do arrepio que sentirei quando regressar a casa.

* Biréli Lagrène - Gipsy Project (2:52) in ‘Move’

8/05/2005

Foolish thing to do*



De repente teve saudades. Foi assim subitamente. Como quem caminha devagar e cheio de tempo por uma rua estreita e não tem a noção dos edifícios, só da rua onde caminha. Até que um dos edifícios cai. Mesmo à nossa frente. Não tinha saudades dele há tanto tempo. Mas, de repente, as saudades vieram lá de onde se tinham escondido e acertaram-lhe, evidentes. Nem tentou desviar-se. O prédio caiu-lhe em cima. Aceitou a evidência da morte das saudades. Mas num gesto demasiado estúpido de defesa tentou tapar a cabeça com as mãos. Mas não se desviou. Só achou esquisito quando do meio dos escombros, alguém lhe disse que estava à espera. Que tivesse. Saudades. E deitou a mão de fora e começou a colocar um tijolo em cima do outro. Sem cimento. Mas nitidamente reconstruindo.

* Laverne Butler (4:28) in ‘A Foolish Thing to Do’

8/01/2005

Everytime We Say Goodbye*



Tenho dificuldade em dizer. Adeus. Ou outra palavra qualquer que seja o anúncio de uma despedida. Mesmo que a ausência dure só uns minutos. Umas horas. Ou uns anos. Ou todo o tempo que nos resta. Mesmo que a despedida seja uma promessa de que amanhã nos encontraremos. Ou encontraremos seja o que for de que agora nos despedimos. Em cada despedida há alguém que morre. Tantas coisas que ficaram por dizer. Mesmo pequenas. Mesmo pouco importantes. Em cada despedida há um universo paralelo de possibilidades de se ser e de se estar se, só por acaso, a despedida não o fosse. Qualquer coisa que atraiçoa a celebração do reencontro. Qualquer coisa que mata as palavras. Que nos deixa em silêncio. Sozinhos.
Sozinhos.
Mas não no silêncio e na solidão que procuramos. Mas na solidão e no silêncio que não queremos encontrar e nos colocam mais longe uns dos outros. E, sobretudo, de nós e do que fomos nós com os outros. Dizer adeus é a evidência de que se esteve em algum lugar e temos que ir embora. E quando vamos embora deixamos de estar e de ser. Não somos. Não estamos.

* Nina Simone (3:27) in ‘Forbidden Fruit’.

E porque são incontornáveis, violentamente femininas, estas vozes e palavras e despedidas, escolho também as versões de:
Betty Carter (5:48 ) in 'Whatever Happened to Love'


Sarah Vaughan (2:23) in 'After Hours'


Carmen McRae (3:00) in 'Carmen McRae Sings Great American Songwriters'



E porque também se diz adeus, sem palavras, escolho a versão de
Charlie Haden (4:18) in ‘Haunted Heart’