7/20/2007

Brilliant Corners*















Anselm Kiefer - Zweistromland

O Jazz nasceu à beira de um abismo. O corpo em situação extrema a descobrir a alma. Não a alma pendurada numa parede do museu teológico, mas a psique aprisionada nas masmorras da santa sé da moral que se liberta no grito que o homem lança no limiar do abismo. O grito é o orgasmo: o Jazz. É neste sentido que se pode falar de um erotismo do Jazz: a escalada de psique para eros. Escalada, apenas. Nunca o ponto de repouso da chegada. Por isso o Jazz é tensão, estirada, dor agudíssima, os ingredientes que elaboram o orgasmo em suspensão. Por isso o Jazz não é terminal, recusa-se a um fim, continua mesmo quando acaba. É fome de amor que se alimenta da insatisfação. Por isso no Jazz se abre o leque dos sons com que a lost generation ventilou o seu rosto afogueado pelo último Verão do mundo. Poesia sem letras, magia sem esperança, assembleia de bacantes na festa do descobridor da vinha, limando as unhas para arrancar olhos aos usurpadores do sonho. Porque no Jazz o que importa, acima de tudo, é não acordar!

[Natália Correia - tirado daqui]


*Thelonious Monk (7:47) in 'Brilliant Corners'

7/16/2007

Hello Dolly*
















O meu boneco, imensamente favorecido - por João Tavares







Se eu fosse um desenho animado, era certamente uma figura simpática como esta. Só faria coisas boas. Nunca me arrependeria de nada. Teria um ganchinho permanente a segurar-me a franja e um jornal debaixo do braço, onde se leriam apenas notícias extraordinárias. Se eu fosse um boneco animado a minha vida seria mais verdadeira. E eu muito melhor pessoa. Pelo menos, não teria medo.


* Louis Armstrong (2:27) in 'Hello Dolly'

7/12/2007

Perdido*

















Salvador Dalí - Destino

Pois que por vezes me parece que ando perdida numa espécie de twilight zone da qual me é impossível sair. Uma espécie de vida surreal. Como um desenho animado. Esta vida que vivo não pode, com frequência acho, ser a minha vida de facto. Há demasiadas personagens surreais. Algumas nem existem. Ou talvez existam. Mas precisem de ser reinventadas.

* Duke Ellington (2:09) in 'Duke Ellington 1969: All-Star White House Tribute'

7/10/2007

All My Tomorrows*
















Wassily Kandinsky - Black Spot

Amanhã. Amanhã mesmo começarei a empurrar-te para um grande buraco negro.

*Shirley Horn (6:22) in 'You Won't Forget Me'