1/30/2007

Simple Thoughts*



















Georgio De Chirico - Melanconia (Solitudine)



Tudo. Absolutamente tudo. É simples. Digo-o. Baixinho. E com cuidado. Para sempre.

* Arild Andersen (6:33) in 'The Triangle'

1/17/2007

Believe Beleft Below*














Max Ernst - La Forêt

Se eu fosse eu era a árvore. Não a floresta que esconde a árvore. Se eu fosse. Eu era. As raízes. O tronco. Os nós. As rugas. A seiva a circular. Eu. Se fosse. Eu era. A árvore. Ou então o vento. O vento nas folhas da árvore que a floresta esconde.

*Esbjorn Svensson Trio (4:51) in 'Seven Days of Falling'

(sim, confesso que ultimamente ouço este cd muitas vezes. Sobretudo esta música, aqui reproduzida integralmente,é fascinante)

1/09/2007

Ballad For The Unborn*










Irene Vincent - Thinking Woman


Só há uma posição possível: ser contra.
Não sei de quem seja favorável ao aborto. Não sei de mulher nenhuma, mesmo tendo abortado, que seja a favor do aborto.
Mas não é disso que se trata.
Trata-se de não fechar os olhos. De não esconder a cabeça nas areias sempre movediças dos 'valores'. De não negar que, mesmo sendo contra, muitas mulheres têm de optar pelo aborto. Por tantas razões quantas as mulheres que abortam. Com tanta consciência como a dos auto-denominados defensores da vida (sim, os mesmos que continuam a ignorar as muitas mulheres que morrem em consequência de um aborto feito em más condições. Como se a vida delas não fosse defensável).
Trata-se de recusar a anestesia geral a que nos votamos todos. E a hipocrisia. De recusar que as mulheres que abortam continuem a ser consideradas criminosas. Pecadoras. Culpadas. Menos humanas. E é disso que se trata. Desta recusa. Por isso. Sim. Para mim, só este voto é possível.


*Esbjorn Svensson Trio (5:32) in ‘Seven Days of Falling’

1/06/2007

Belonging*


















Joan Miró - Character

Um dos meus quatro nomes é Maria. E sou como toda a gente. Duas mãos brancas. Os dedos muito finos. Dois olhos. Uma boca. Um nariz. Além disso, dois braços. Duas pernas algo desiguais. Mas grossas. Seios. Ancas. Orelhas muito pequenas. Sobrancelhas e pestanas. Um umbigo. Sinais nas costas. E sou como toda a gente. Não tenho nada para dar, mas fora isso, penso ter tudo. Não tenho alma, mas fora isso, sei sentir o que me ensinaram. E mesmo o que nunca aprendi. E acontece mesmo assim. Não tenho nada, excepto um corpo que não tem para onde ir, mas fora isso faz tudo o que os corpos fazem. Alimenta-se. Defeca. Dói de quando em vez. Inspira. Expira. Fica muito quieto. Agita-se. Sobressalta-se. E volta a ficar quieto. Não tenho nada, excepto o que penso. E asseguro que não é grande coisa. Um dos meus quatro nomes é Maria. E isso é absolutamente irrelevante.

* Jan Garbarek, Keith Jarrett, Palle Danielsson, Jon Christensen (2:15) in 'Belonging'

1/02/2007

Gratitude*













Roberto Matta - La Morphologie du Ciel

Há muito. Há sempre. Muito. Para agradecer. Se repararmos bem.


* Chris Potter (3:07) in 'Gratitude'