12/31/2007

Love Ballade*





















Pablo Picasso - L'Acrobate Bleu


A beleza. Toda a beleza que ainda há. Há-de um dia. Dominar o (nosso) mundo.


*Oscar Peterson (14:05) in 'Summer Night in Munich'

12/19/2007

White Christmas*




















Joan Miró - Estrella Azul



Desejo a todos e a todas umas óptimas festas.
Que 2008 seja um ano cheio. De sucessos pessoais e profissionais. De paz. De alegria. De bom humor. E da beleza que ainda anda pelo mundo.
Um abraço



* Louis Armstrong (2:39) in '20th Century Masters - The Christmas Collection: The Best of Louis Armstrong'

11/29/2007

Poinciana (The Song of The Tree)*


















Piet Mondrian - The Red Tree

A árvore é uma habitação perdida. E encontrada**. As árvores lembram-nos o que seríamos se pudessemos ser durante séculos.
As árvores exigem a nossa lenta reverência**. Com vagar, diante do tronco rugoso, das folhas que rebentam novamente a cada primavera, dos ramos que se tingem de vermelho para depois se despirem, no outono... reconhecemos o quão pequenos somos. E fugazes. As árvores não.
As árvores permanecem majestosas mesmo quando deixarmos de poder reconhecê-las.

* Ahmad Jamal (8:06) in 'The Legendary Ahmad Jamal Trio Live'
** frases de António Ramos Rosa, no poema cada árvore é um ser para ser em nós

Poinciana é uma árvore tropical de folhagem abundante e escarlate ou, outras vezes, laranja. Também pode ser chamada a árvore vermelha.

11/11/2007

Exit Music (for a film)*




















Anselm Kiefer - Mann im Wald

Eu não devia viver dentro de uma canção de amor. Dessas de onde apetece fugir. Onde as notas são como facas. Dessas canções. De amor. Onde as notas são lágrimas afiadas. A vazar-nos os olhos. A rasgar-nos a carne. A queimar-nos a pele. Eu devia viver dentro de uma canção de amor. Onde o teu sorriso não estivesse. A lembrar-me para sempre. Onde era o amor. Onde eram as notas. Mansas. Como as árvores centenárias. Eu não devia viver dentro de uma canção de amor. Dessas onde todas as árvores estão mortas. Ou a arder. E de qualquer maneira me empurram. Ao morrer. Para fora da floresta.

* Brad Mehldau Trio (4:23) in ‘The Art of the Trio, Volume 3: Songs’

10/21/2007

Movimentos Invisíveis*



















Anselm Kiefer - Die Sieben Himmlspaläste

Os lugares mais longe são os que ficam dentro de nós. Não os conhecemos nunca. A menos que. Uma leve pena. Desenhe um mapa. Ou só nos estremeça.

* Bernardo Sassetti, Rui Rosa, Yuri Daniel (3:52) in 'Alice'

10/16/2007

Time Remembered*

















Paul Klee - Embrace

Esquecemos o tempo. Todo o tempo. Menos os abraços. O tempo. Que demoram. Os abraços.

* Bill Evans Trio (5:35) in 'Time Remembered'

10/02/2007

Autumn Leaves*


















W. Kandinsky - Autumn in Bavaria


As folhas. O vento. A dança. Eis que tudo principia a morrer. Até à morte. Para que tudo recomece. Mais adiante. Gosto disto. Destas folhas. Deste vento. Desta dança. Desta promessa de morte. Que nunca se cumpre por inteiro.

* Ahmad Jamal (2:41) in 'Legendary Okeh & Epic Recordings'

Ahmad Jamal vai estar na edição de 2007 do Guimarães Jazz. Consultem a programação daquele que é um dos meus festivais favoritos aqui

9/12/2007

Lisbon*






















Maluda - Telhados de Lisboa


Podia ter nascido em mil lugares. Mas não. Sou deste. E comove-me. Podia ter nascido em mil lugares. E deles seria. Comovida.

* David Binney (3:40) in 'Cities and Desire'

9/03/2007

Verão*




J. Vermeer - Vista de Delft

O Verão acaba quando acabam as férias. Não gosto do Verão. Mas gosto menos ainda. Quando acaba. Quando acabam as férias. E acabam as viagens de prazer. Começam outras. Impostas pelo ritmo dos dias e por aquilo que se pode discutir, ensinar e aprender. Que comecem essas. E que comece o Inverno.

* Amsterdam Jazz Orchestra in 'Finding The Way'

8/11/2007

First Trip*




















Vincent Van Gogh - Sunflowers




Todas as viagens são as primeiras. Agora vou-me embora. Pela primeira vez. Como sempre. Intermitentemente virei olhar. Ouvir. Mas os olhos farão outras viagens. Até aos girassóis de Van Gogh, por exemplo. Em Setembro volto. Pela primeira vez. Como sempre.

* Herbie Hancock (5:58) in 'Finest in Jazz'

8/01/2007

Summer Night*





















Joan Miró - Summer





Não gosto do Verão. Do quente intenso dos dias. Do ar difícil de respirar. Mas gosto do Verão. Da vastidão dos dias. Das profundas estrelas saídas das noites.


* Keith Jarrett, Jack DeJohnette, Gary Peacock (7:38) in 'Tokyo'96'

7/20/2007

Brilliant Corners*















Anselm Kiefer - Zweistromland

O Jazz nasceu à beira de um abismo. O corpo em situação extrema a descobrir a alma. Não a alma pendurada numa parede do museu teológico, mas a psique aprisionada nas masmorras da santa sé da moral que se liberta no grito que o homem lança no limiar do abismo. O grito é o orgasmo: o Jazz. É neste sentido que se pode falar de um erotismo do Jazz: a escalada de psique para eros. Escalada, apenas. Nunca o ponto de repouso da chegada. Por isso o Jazz é tensão, estirada, dor agudíssima, os ingredientes que elaboram o orgasmo em suspensão. Por isso o Jazz não é terminal, recusa-se a um fim, continua mesmo quando acaba. É fome de amor que se alimenta da insatisfação. Por isso no Jazz se abre o leque dos sons com que a lost generation ventilou o seu rosto afogueado pelo último Verão do mundo. Poesia sem letras, magia sem esperança, assembleia de bacantes na festa do descobridor da vinha, limando as unhas para arrancar olhos aos usurpadores do sonho. Porque no Jazz o que importa, acima de tudo, é não acordar!

[Natália Correia - tirado daqui]


*Thelonious Monk (7:47) in 'Brilliant Corners'

7/16/2007

Hello Dolly*
















O meu boneco, imensamente favorecido - por João Tavares







Se eu fosse um desenho animado, era certamente uma figura simpática como esta. Só faria coisas boas. Nunca me arrependeria de nada. Teria um ganchinho permanente a segurar-me a franja e um jornal debaixo do braço, onde se leriam apenas notícias extraordinárias. Se eu fosse um boneco animado a minha vida seria mais verdadeira. E eu muito melhor pessoa. Pelo menos, não teria medo.


* Louis Armstrong (2:27) in 'Hello Dolly'

7/12/2007

Perdido*

















Salvador Dalí - Destino

Pois que por vezes me parece que ando perdida numa espécie de twilight zone da qual me é impossível sair. Uma espécie de vida surreal. Como um desenho animado. Esta vida que vivo não pode, com frequência acho, ser a minha vida de facto. Há demasiadas personagens surreais. Algumas nem existem. Ou talvez existam. Mas precisem de ser reinventadas.

* Duke Ellington (2:09) in 'Duke Ellington 1969: All-Star White House Tribute'

7/10/2007

All My Tomorrows*
















Wassily Kandinsky - Black Spot

Amanhã. Amanhã mesmo começarei a empurrar-te para um grande buraco negro.

*Shirley Horn (6:22) in 'You Won't Forget Me'

6/29/2007

In The Mood*






















Jerry Clovis - Jazz Party II




Que daqui a dois anos, as razões para celebrar continuem! Obrigada aos visitantes que aqui assistem às minhas misérias e grandezas. Ao que sinto e ao que penso. Ao que sou. Obrigada por partilharem comigo os sons de jazz que tanto prazer me dão. O resto importa menos. Ou muito pouco. A música é o mais importante. A beleza da música.


* Glenn Miller and his Army Airforce Band (3:48) in 'Glenn Miller and His Army Airforce Band'

6/22/2007

Take Five*















Gustav Klimt - Macieira




Satisfazer a curiosidade da
IO não é difícil. Costumo acorrentar-me aos livros e viajar por dentro deles. Até aos sentidos.
E então, toma lá cinco:
agora leio Um, nenhum e cem mil de Luigi Pirandello. Depois vou ler, talvez não por esta ordem e talvez outros se me imponham entretanto... Seize the Day de Saul Bellow, A herança do vazio de Kiran Desai, Combateremos a sombra de Lídia Jorge e Na praia de Chesil de Ian McEwan.
E depois. Estamos no Verão. E eu no Verão estreito as correntes com as palavras dos outros. O Verão é uma boa altura para viajar assim.

* Herbie Hancock & Quincy Jones (3:35) in 'Walk on the Wild Side'



6/20/2007

Come Fly With Me*



















Jackson Pollock - Galaxy


As comemorações continuam. Porque há na música um universo de sentidos que deve ser celebrado.

* Count Basie Orchestra (3:03) in 'Frankly Basie: Count Basie Plays the Hits of Frank Sinatra'

6/18/2007

Dream a Little Dream of Me*














Pablo Picasso - Mulher de Cabelos Amarelos


Um pequeno desejo. Um vagaroso sonho. Gosto de pensar neste lugar como um lugar onde a mansidão que há em todas as coisas belas se concentra. Um lugar de sentidos**.

* Ella Fitzgerald & Louis Armstrong (3:07) in 'Ella Fitzgerald and Louis Armstrong for Lovers'

** Assim se iniciam as comemorações dos dois anos deste blog. Até 29/6 haverá mais música, mais quadros. Mais sentidos.

6/12/2007

Half The Perfect World*

















Roy Lichtenstein

Às vezes, sem darmos muito por isso, o mundo pode ser perfeito. Não fossem os relógios e os minutos que passam muito devagarinho, até chegares.

* Madeleine Peyroux (4:20) in 'Half the Perfect World'

5/28/2007

Just As I Am*




















Ann Baldwin - Blue Note

Uma. Pequeníssima. Nota. Imperfeita.

* Chris Potter (3:37) in 'Traveling Mercies'

5/17/2007

Clues*















Anselm Kiefer - Eridanus

Isto é uma não resposta. Que eu não estou para ser provocada**. Tudo desconheço sobre essa arte aparentemente fácil, mas verdadeiramente difícil, de sair de si e deixar aos outros qualquer coisa. Deixamos vestígios. Aqui e ali. Espalhados para que alguém os agarre e os tome como seus. Um dos meus, bem podia ser este (mas provavelmente são outros quaisquer): o que é preciso é dar lugar aos pássaros nas ruas da cidade (Ruy Belo).

E se é para passar adiante, passo, comme d'habitude ao Luís d' A Natureza do Mal, à Sandra do Tubo de Ensaio, ao Henrique do Insónia e gostava de ver que vestígios é que acha que pode já deixar um miúdo de 22 anos e por isso passo também ao Paulo do Paraíso na Outra Esquina.

* Patricia Barber (4:58) in 'Verse'

** Um "meme" é um " gene cultural" que envolve algum conhecimento que passas a outros contemporâneos ou a teus descendentes. Os memes podem ser ideias ou partes de ideias, línguas, sons, desenhos, capacidades, valores estéticos e morais, ou qualquer outra coisa que possa ser aprendida facilmente e transmitida enquanto unidade autónoma"

5/11/2007

Be My Love*




















Joan Miró - Dancer II


Podia ser um pedido. Até uma súplica. Mas não é isso. Ou nada é. A não ser. O reconhecimento da incrível beleza que há nas coisas. Incluindo no amor. Ou. Sobretudo. No amor. Podia ser um pedido. Mas nada é. Porque nada existe para além da beleza que existe. Nas coisas. Sobretudo. Nas coisas. Do amor.

* Keith Jarrett (5:38) in ' The Melody at Night, With You'

4/25/2007

Free for All*





















Maria Helena Vieira da Silva


Sempre!

* Dave Holland Quintet (10:18) in 'Extended Play: Live at Birdland
'

4/22/2007

Beautiful Land*












A Terra vista do espaço, com estrelas


Neste dia, é preciso lembrar que «a terra gira com um ritmo mais verde que o teu passo»**

* Nina Simone (1:58) in 'I Put a Spell on You'

** António Ramos Rosa

4/12/2007

Reactionary Tango*
















Paula Rego - A Dança

A outros acontecerá de outras maneiras. Mas eu tornei-me socióloga assim. A gostar de observar a dança das pessoas. A tentar descobrir porque dançam. Aquilo que as faz dançar. Ou não. Na altura da minha decisão pelos estudos sociais eu gostava de fazer peoplespotting**. Ainda gosto.

* Carla Bley (12:54) in 'Social Studies'

** peoplespotting que eu saiba é uma designação que não existe... Usei a palavra Trainspotting como base. Trainspotting além de ser o título de um filme de Danny Boyle e de um livro de Irvine Welsh, é um hábito (ao que dizem) britânico de observar os comboios.

4/02/2007

Landscape for Future Earth*

















Václav Mach-Kolacny - Alice in a world behind a mirror

O importante são esses pequenos gestos perfeitos, com que atravessamos espelhos

*Keith Jarrett (3:34) in 'Facing You'

3/19/2007

Mother Nature's Blues*












Pablo Picasso - Le Printemps

Tudo recomeça. Mesmo o que se perdeu. Os teus olhos, por exemplo. Hão-de recomeçar agora. Como se fossem novos. E por isso, sem medo. Como se fosse outra vez primavera e tudo o que há na natureza recomeçasse a sua dança exuberante. Tudo se re(a)corda. No novo começar.

* Sonny Rollins (11:32) in 'Global Warming'

3/08/2007

Indiferença*

















Paula Rego - Mulher-Cão

É com indiferença que, frequentemente, passamos este dia. Esquecendo, também frequentemente, que sob qualquer das suas formas a violência contra as mulheres é ainda a mais frequente violação dos direitos humanos no mundo.

*Bernardo Sassetti; Rui Rosa; Yuri Daniel (4:51) in 'Alice'

3/01/2007

Fate*

















Mário Cesariny - O que está em cima é igual ao que está em baixo

Março começa e eu, se me fosse permitido, mudaria tudo. A morte de que não me livrarei nunca. O amor de que não me livrarei nunca. Março começa e eu tenho duas memórias que, sendo tão diferentes, se parecem tanto. No que delas há de imutável. A sua inscrição em mim. A determinação no que agora sou e no que não era há trezentos e sessenta e cinco dias ou há trezentos e sessenta e cinco dias vezes quatro. Março começa e eu não percebo esta inevitabilidade. Março começa e eu mudaria tudo. Para voltar a pôr as coisas nos seus sítios. Nesses onde estavam há trezentos e sessenta e cinco dias vezes quatro ou há trezentos e sessenta e cinco vezes um. Perfeitamente arrumadas e exactas. Se me fosse permitido.

* Branford Marsalis (8:24) in 'Braggtown'

2/21/2007

Woman At Point Zero*














Anselm Kiefer - Melancholia

Só isto é verdade
O epicentro dos grandes terramotos
encontra-se na extrema mansidão
com que caminhas
a uma certa luz da tarde
e alheio
destróis os desertos
que levei anos
a esboçar.

(publicado antes, sem banda sonora, em Um Dia A Menos Para A Morte )

* Dave Douglas (7:42) in 'Witness'

2/16/2007

Noite (parte II)*














Anselm Kiefer - The Milky Way

Eu ia dizer hoje. Já não sei o quê. Talvez uma corrente. Dupla. Mas que, do mesmo modo, prende. Mas já não sei a quê. Eu ia dizer hoje. Noite. Nada me salva da noite. A noite é onde?

* Bernardo Sassetti; Rui Rosa; Yuri Daniel (2:00) in 'Alice'

2/11/2007

Con Alma*



















Pablo Picasso - Madre


Finalmente as mulheres em Portugal vão deixar de ser criminalizadas por um acto que já é, em si mesmo, difícil e penalizador. Ninguém mais as julgará em tribunal. Ninguém mais as condenará à prisão. E por isso, hoje, os meus pensamentos são contentes.

*Chano Domínguez (5:30) in 'Con Alma'

2/07/2007

Blue Moon*

















Pierre Delattre - Here's To Happiness


Uma explosão de alegria.
Parece-me que andamos a precisar de qualquer coisa assim.

* Jackie Kelso (2:41) in 'Atlas Jazz Explosion'

1/30/2007

Simple Thoughts*



















Georgio De Chirico - Melanconia (Solitudine)



Tudo. Absolutamente tudo. É simples. Digo-o. Baixinho. E com cuidado. Para sempre.

* Arild Andersen (6:33) in 'The Triangle'

1/17/2007

Believe Beleft Below*














Max Ernst - La Forêt

Se eu fosse eu era a árvore. Não a floresta que esconde a árvore. Se eu fosse. Eu era. As raízes. O tronco. Os nós. As rugas. A seiva a circular. Eu. Se fosse. Eu era. A árvore. Ou então o vento. O vento nas folhas da árvore que a floresta esconde.

*Esbjorn Svensson Trio (4:51) in 'Seven Days of Falling'

(sim, confesso que ultimamente ouço este cd muitas vezes. Sobretudo esta música, aqui reproduzida integralmente,é fascinante)

1/09/2007

Ballad For The Unborn*










Irene Vincent - Thinking Woman


Só há uma posição possível: ser contra.
Não sei de quem seja favorável ao aborto. Não sei de mulher nenhuma, mesmo tendo abortado, que seja a favor do aborto.
Mas não é disso que se trata.
Trata-se de não fechar os olhos. De não esconder a cabeça nas areias sempre movediças dos 'valores'. De não negar que, mesmo sendo contra, muitas mulheres têm de optar pelo aborto. Por tantas razões quantas as mulheres que abortam. Com tanta consciência como a dos auto-denominados defensores da vida (sim, os mesmos que continuam a ignorar as muitas mulheres que morrem em consequência de um aborto feito em más condições. Como se a vida delas não fosse defensável).
Trata-se de recusar a anestesia geral a que nos votamos todos. E a hipocrisia. De recusar que as mulheres que abortam continuem a ser consideradas criminosas. Pecadoras. Culpadas. Menos humanas. E é disso que se trata. Desta recusa. Por isso. Sim. Para mim, só este voto é possível.


*Esbjorn Svensson Trio (5:32) in ‘Seven Days of Falling’

1/06/2007

Belonging*


















Joan Miró - Character

Um dos meus quatro nomes é Maria. E sou como toda a gente. Duas mãos brancas. Os dedos muito finos. Dois olhos. Uma boca. Um nariz. Além disso, dois braços. Duas pernas algo desiguais. Mas grossas. Seios. Ancas. Orelhas muito pequenas. Sobrancelhas e pestanas. Um umbigo. Sinais nas costas. E sou como toda a gente. Não tenho nada para dar, mas fora isso, penso ter tudo. Não tenho alma, mas fora isso, sei sentir o que me ensinaram. E mesmo o que nunca aprendi. E acontece mesmo assim. Não tenho nada, excepto um corpo que não tem para onde ir, mas fora isso faz tudo o que os corpos fazem. Alimenta-se. Defeca. Dói de quando em vez. Inspira. Expira. Fica muito quieto. Agita-se. Sobressalta-se. E volta a ficar quieto. Não tenho nada, excepto o que penso. E asseguro que não é grande coisa. Um dos meus quatro nomes é Maria. E isso é absolutamente irrelevante.

* Jan Garbarek, Keith Jarrett, Palle Danielsson, Jon Christensen (2:15) in 'Belonging'

1/02/2007

Gratitude*













Roberto Matta - La Morphologie du Ciel

Há muito. Há sempre. Muito. Para agradecer. Se repararmos bem.


* Chris Potter (3:07) in 'Gratitude'